sábado, 21 de abril de 2018

BANZO



Banzo

“O negro chegava, e ao experimentar o áspero cativeiro, entristecia e definhava, entregava-se ao desespero, fugia como um doido, banzava por aí afora, preferindo-se matar-se a cair novamente nas mãos do senhor”. (Lycurgo). O negro escravo, arrancado das plagas africanas, padecia de mortal tristeza, padecia de banzo, causa frequente de suicídios.

O banzo é um ressentimento entranhado por qualquer princípio, causado por tudo aquilo que pode melancolizar a saudade dos seus, e da sua pátria; o amor devido a alguém; à ingratidão, a aleivosia, a cogitação profunda sobre a perda da liberdade; a meditação continuada da aspereza da tirania com que os tratam. Esta paixão da alma a que se entregam, que só é extinta com a morte. Um forte parecer sobre o caráter dos africanos (fiéis, resolutos, constantes). O banzo era o resultado do ressentimento pelo rigor com que os tratavam os seus senhores, rigor acrescido de crueldade e tirania. (Memória de Oliveira Mendes)

O banzo dos escravos era a nostalgia da medicina europeia. Nostalgia foi o nome científico (do grego nostos, retorno à terra natal, e algos, dor ou sofrimento). Interessa aqui destacar que, como observa Rosen, em fins do século XVIII, a nostalgia era aceita como entidade clínica, reconhecida por médicos como uma enfermidade ocorrente em diversos grupos sociais, não apenas entre soldados, e descrita em vários países da Europa.

O quadro ocorreria com frequência entre soldados (em especial entre os jovens convocados à força) deslocados para regiões distantes de seu torrão natal, em geral em condições muito adversas, em guerras ou ocupações militares. Estes seriam acometidos por um profundo desespero, em razão das saudades de casa ou diante da ideia de jamais voltar a ver o solo pátrio. Este sentimento progrediria até se tornar uma doença, muitas vezes fatal, com manifestações físicas e mentais: enorme tristeza, insônia, fraqueza, falta de apetite, alterações gastrintestinais, ansiedade, palpitações cardíacas, febre, apatia, estupor, além das incessantes e suspirosas lembranças do lar distante. O único remédio eficaz, reconheciam os médicos militares, era o retorno à terra natal, já que os nostálgicos não serviam mais para as armas (Rosen).  

Antônio Samarone.

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