quinta-feira, 26 de outubro de 2017

REVOLUÇÕES


Revoluções – “Aquele que se ajoelha diante do fato consumado não é capaz de enfrentar o futuro. Leon Trotsky.

Ontem, 25 de outubro de 2017, um pequeno grupo de sergipanos reuniu-se para relembrar o centenário da revolução russa, o maior acontecimento histórico do Século XX. Reunimos para relembrar a memória dos muitos sergipanos que acreditaram, sofreram e alguns até deram a vida por essa utopia. Uma revolução que cometeu os seus erros, como as demais, mas que mudou a natureza dos movimentos sociais no mundo. A revolução russa foi derrotada em 1991, com a renúncia de Mikhail Gorbatchev, e o capitalismo reimplantado.

A revolução inglesa do século XVII, cortou a cabeça de Carlos I e criou o parlamento burguês; a revolução francesa do século XVIII, pois fim ao absolutismo e abriu o mundo para o capitalismo; a comuna de Paris do século XIX, criou o primeiro governo dos trabalhadores, durou 71 dias; no século XX, a revolução russa tentou implantar o socialismo, dentro de uma visão marxista da realidade. Para onde vai o século XXI, não sabemos.

Só existe uma certeza: o capitalismo não é o fim da história.


Antonio Samarone

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ESCRITOR ANALFABETO

UM ESCRITOR ANALFABETO
A indústria editorial em Sergipe passa por um surto de prosperidade. Nunca se publicou tantos livros, mais de duzentos nos últimos noventa dias. O poeta Amaral Cavalcante já pediu que não lhe convidem mais para lançamentos. O inusitado foi o lançamento do primeiro livro de Zé de Sobó, intitulado “Sinais dos Tempo”. O novo escritor, José da Silva Santos (Zé de Sobó), 27 anos, natural do Batula, nunca pôs os pés numa escola. É analfabeto de pai e mãe. O mundo já conhecia compositores surdos (Beethoven); cantores gagos (Nelson Gonçalves); escultores sem braços (Aleijadinho em Ouro Preto), mas escritor analfabeto esse é o primeiro. Eita povo inteligente.
Zé de Sobó já foi convidado para o programa do Bial, na Globo. Os departamentos de letras das universidades entraram em pânico: pode ser o fim das letras. Um doutor em informática simplificou: bobagem, um bom aplicativo transforma a fala em escrita, e ainda faz a correção ortográfica. Os espíritas acreditam que Zé de Sobó é médium e está apenas psicografando. Se o sujeito que recebe o dr. Fritz pode curar; por que o que incorpora um escritor não pode escrever? Já um amigo jornalista foi irônico: grande novidade, o que mais existe é escritor analfabeto. Eu não sei explicar.
A verdade é que Zé de Sobó adorou a novidade e já pensa em se tornar um escritor profissional. Finalmente, surgiu uma oportunidade de deixar o cabo da enxada.
Antonio Samarone.

SANTO DE CASA


SANTO DE CASA
A feira de livros de Itabaiana foi um sucesso de público e vendas. Com um detalhe: um escritor Itabaianense de sucesso, como Carlos Mendonça, vendeu 713 livros durante a feira; uma escritora conhecida nacionalmente, como Tina Correia, esposa do consagrado jornalista Ancelmo Gois, vendeu apenas 06 livros. Em Itabaiana, quem faz o milagre é o santo da casa. Quem conhece a tradição cultural de Itabaiana não tomou como surpresa.
Não estou comparando os escritores. Carlos Mendonça e Tina Correia são talentosos, cada um a seu modo, as razões são outras. A minha cisma é por que o livro de Tina Correia, “Essa menina – De Paris a Paripiranga”, cheio de poesia e erudição, um livro muito bom, bem escrito e bem editado, não emplacou no mercado Itabaianense de letras?
A tradição bairrista de Itabaiana vem de longe. Conta-se que o mestre Orpílio alfaiate afirmava sem hesitação: - nada do que acontecer no outro lado da Serra de Itabaiana me interessa. Depois explicava: - ninguém de fora nunca me encomendou um terno. A lógica do mestre Orpílio continua viva.
Recentemente um palestrante no Rotary de Itabaiana começou a louvar Sílvio Romero. Sílvio prá cá, Romero prá lá, e os ceboleiros entusiasmados. A certa altura, um desconfiado fez a pergunta básica: - venha cá, esse Sílvio Romero é de onde? O palestrante de pronto: - de Lagarto. Aquele “hummmm” de desaprovação entoou pela sala... De Lagarto? Foi aquela decepção.
Portanto, Tina Correia, não fique triste. Nem vende você, nem Machado de Assis, nem Carlos Drummond, nem a mãe de “calor de figo”.
Antônio Samarone

TERMINAL DE PESCA

MAIS UMA OBRA PARADA
O Terminal de Pesca de Aracaju está quase pronto, falta 5% da parte física da construção, mas parou. A obra foi iniciada em dezembro de 2015. Claro, faltam os equipamentos, as câmaras de frio, etc., etc., mas isso é mais fácil. A ausência de planejamento do Governo, o improviso, levam a esses absurdos. Existem recursos federais em caixa, são emendas parlamentares, mas falta gestão. Os passos seguintes são conhecidos: abandono da obra, depredação e ocupação por usuários de drogas.
Esta obra seria a salvação dos pescadores, pois as condições sanitárias do terminal pesqueiro existente são inaceitáveis, dificultando a comercialização do pescado. A sociedade, que paga mais essa conta, pede socorro ao Ministério Público Federal...
Antônio Samarone.

O RIO SERGIPE


RIO SERGIPE.
O Governo está construindo um avanço no rio Sergipe, para colocar oito bonecos de fibra de vidro, representando a gente sergipana. O Governo de Sergipe, que passa por dificuldades financeiras, vai gastar 6,4 milhões (2,2 na infraestrutura e 4,4 milhões na confecção dos bonecos).
Perguntei a uma autoridade da cultura do Estado, o que justificava aquela maluquice dos bonecos dentro do Rio? Ele me respondeu de pronto: - É para estimular o turismo. As pesquisas indicam que o monumento mais visitado em Aracaju é um caranguejo de fibra na Atalaia, e o segundo são as araras de mau gosto, existentes nas proximidades do Iate. Segundo a mesma autoridade, o governo já está pensando em colocar uma mosca de fibra na orla pôr do sol, no Mosqueiro. Afinal, tudo é cultura...
E o funcionário continuou a sua preleção: além do mais, em Salvador tem um monumento aos Orixás, no Dique do Tororó, e ninguém critica. Eu ponderei que era diferente, o monumento em Salvador tinha a ver com a religiosidade da Bahia, e que lá fazia sentido. Fui ignorado...
Tentei argumentar que essa grana poderia ser utilizada para atualizar o Museu da Gente Sergipana, que se encontra como foi inaugurado. Não houve jeito! Por último, sentenciou a autoridade: você até agora foi a única pessoa a botar mau gosto nos bonecos, parece má vontade. Me calei!
Mesmo com a minha desaprovação, a obra está lá e o Governo tem pressa...
Antônio Samarone.

sábado, 21 de outubro de 2017

AS MINAS DE PRATA DA SERRA DE ITABAIANA


As Minas de Prata da Serra de Itabaiana

Belchior Dias Moréia estava certo, existe prata na Serra de Itabaiana. O neto de Caramuru que descobriu a prata pediu alto para informar o mapa da mina. A corte espanhola chegou a mandar para Itabaiana em 1619, uma grande comitiva chefiada por Dom Luís de Souza, Governador-Geral do Brasil, acompanhado dos capitães-mores do Espírito Santo, Gaspar Allures de Siqueira e de Sergipe, João Mendes. A expedição contratou um mineiro castelhano experiente, Fernão Gil, trazido do Peru. Como não houve acordo, Belchior Dias Moréia não indicou onde estava a prata. A comitiva voltou de mãos abanando. Prenderam Belchior, que morreu com mais de 80 anos, sem revelar o segredo das minas de prata da serra de Itabaiana.

Em seu famoso livro “Cultura e Opulência no Brasil”, escrito em 1711, Antonil confirmou a existência da prata em Itabaiana: “E na serra de Itabaiana, há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da Fonseca Dória.” Outras expedições foram feitas, e ninguém descobriu a prata. Só agora, século XXI, em minhas andanças com a Expedição Serigy, encontrei uma senhora, descendente próximas dos Tapuias, que me disse saber mais ou menos onde era a entrada da mina de prata. Não custava nada, pedi para ela me mostrar. De fato, existe. O caminho é pedregoso e a entrada da mina fica num lugar meio encantado e de difícil acesso.

Procurei saber se prata ainda serve para alguma coisa, e parece que não. Nem para fazer anel de cigano. Os talheres e baixelas dos ricos não são mais de prata, a Tramontina ganhou a concorrência. Rodei o shopping e não encontrei nada de prata para comprar, saiu de moda. Bijuteria vale mais do que prata. Tenho um amigo que tem uns sacos cheios de prataria num depósito, herdado da família, e não acha a quem vender. Antigamente passava gente comprando alumínio velho, cobre e metal.  Até garrafa usada e frasco de brilhantina tem comprador. Mas não conheço ninguém que compre prata. Ainda tem um complicador, a mina de prata fica num Parque Nacional, mesmo que valesse muito seria tudo do governo.

Pensei bem e resolvi me aquietar. Não vou revelar o segredo de Belchior Dias Moréia. Continuem pensando que as minas de prata da serra de Itabaiana são lendas.


Antônio Samarone. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

HOSPITAIS DE CARIDADE EM ARACAJU

Hospitais de Caridade em Aracaju (Cirurgia, Santa Izabel e São José).
A crise no atendimento aos pacientes do SUS nos hospitais de caridade em Sergipe se arrasta há anos. A suspensão do atendimento virou rotina. Sem solução. Predomina a versão que os gestores do SUS são os únicos responsáveis, pois não repassam os recursos. A imprensa e o ministério público batem na mesma tecla: a causa da crise é o atraso no repasse dos recursos. Sem avalizar os gestores públicos, algumas vezes movidos pela politicagem, despreparados e sem compromisso, mas a questão é mais complexa.
Vamos aos fatos: esses hospitais não passaram por licitações para contratarem com o serviço público, com a justificativa de serem filantrópicos. Hoje, a rede filantrópica não recebe um centavo de nenhum caridoso, figura aliás fora de moda, a partir do momento que a saúde passou a ser um direito do cidadão. Atualmente a filantropia é uma lembrança do passado, uma figura jurídica desprovida de conteúdo. Pelo contrário, esses hospitais mantem-se com a fachada de filantrópicos para continuar tendo o privilégio de serem isentos de alguns tributos, de receberem investimentos e equipamentos públicos, e de servirem de guarda-chuva para que grupos privados atuem em suas dependências, sem precisar participar da concorrência com o restante da rede privada.
No momento, o SUS repassa para essa rede filantrópica cerca de 17 milhões/mês. A minha tese é que essa dinheirama é má aplicada, o retorno para os usuários não é compatível com os recursos aplicados. Creio que esses contratos precisam ser repensados, revistos, que se abra uma concorrência pública, e que o SUS leve em conta a velha relação custo/benefício para aplicar os seus escassos recursos. Claro, não se quer acabar com os hospitais de caridade, eles participariam da concorrência. No modelo atual, com os recursos públicos garantidos, os filantrópicos podem descuidar da própria gestão.

Antônio Samarone.