COISAS DE ITABAIANA
Segundo a historiadora e conterrânea Thetis
Nunes, a economia de Itabaiana deu um salto no início da década de 1950, com a
chegada da BR – 235. A nova estrada fortaleceu o comércio e promoveu o
surgimento dos caminhoneiros. Na política, décadas de conflitos terminaram de
forma trágica. Em 1963, os líderes da UDN, Euclides e o filho são assassinados,
e em 1967, o líder da oposição (PSD), Manoel Teles, teve o mesmo fim. A cidade
entrou numa nebulosa apatia. Nada unia as pessoas, desunidas pela paixão
política; nada as aproximava, faltava um cimento, uma liga, um motivo maior
para reaproximar o rebanho Itabaianense. Quem cumpriria o papel de reunificar a
comunidade: a cultura, a religião, outros políticos?
O meu amigo Baldochi foi o primeiro a
enxergar essa resposta, foi o futebol. Em 1968, o Dr. Pedro Garcia Moreno, Zé
Queiroz, Tonho de Doci, Zé Gentil, Morzat, entre outros abnegados, resolveram
tomar conta do futebol de Itabaiana. Foram buscar jogadores na redondeza,
Horácio em Carira; Onça Preta e Cardoso em Frei Paulo; Carlos, Edmilson, Belo e
Tiquinho em Propriá; Marcelo no Alagadiço; Coisa Preta, Targino, Toninho Maré e
Sinval eu não sei onde; juntaram-se com alguns nativos, Augusto, Elísio, Zé de
Vitinha, Gustinho, Lelé de Rola, Pombo, Dedé, Tonho de Preta; botaram o
experiente treinador, Edmur Cruz, e deu tudo certo.
A cidade inteira passou a só falar em
futebol. Agora, com Dr. Pedro à frente a coisa anda, diziam os ceboleiros. Depois
Zé Queiroz da Costa tomou conta, e o futebol cresceu. Tudo era novidade no
começo. Botaram umas gambiaras no velho Etelvino Mendonça para os jogadores se exercitarem
pela noite. Foi um alvoroço no Beco Novo. O Itabaiana passou a treinar fisicamente;
arrumou-se uma sede, na antiga casa do padre, onde os de fora passaram a morar;
contratou-se até um massagista, Geraldo de Avaci. E o Tanque da Serra, Horácio,
virou o primeiro ídolo. A cidade adorava o seu artilheiro.
Em 1969 o Itabaiana ganhou o primeiro campeonato
sergipano. Nascia o grande elo de ligação entre todos os ceboleiros: o futebol
cumpriu esse papel. Quem não conhece a história não entende o significado do
futebol em Itabaiana. A Associação Olímpica não é apenas uma agremiação
privada, pertencentes aos seus sócios; o time é a comunidade de chuteira, uma
tribo de gente bairrista, orgulhosa, sufocada de auto estima, onde o futebol é
a sua principal identidade. Alberto de Carvalho, nosso maior intelectual,
deixou claro na composição do hino: “somos Itabaiana, cidade celeiro, que
vibra no esporte com o seu Tremendão”. Não é à toa que nos consideramos a
capital sergipana do Futebol.