Loucura, doidice ou alienação
mental – Perturbação das faculdades intelectuais
"Causas: o sexo feminino, o
temperamento nervoso, uma educação viciosa, o celibato, as profissões que
exigem grande esforço do espirito, que agitam fortemente e põe em lida a
vaidade, a ambição, etc.; as grandes revoluções políticas, a superstição, os
terrores religiosos, a saciedade de todos os gozos, os excessos venéreos, os
licores fortes, a leitura dos romances e dos maus livros, o ócio, a congestão
cerebral frequente, são as causas que predispõe a loucura. Mas as causas que a
determinam ordinariamente consistem quase todas nas afecções morais vivas ou
continuas, tais como a cólera, o susto, uma perda súbita de fortuna, uma
felicidade inesperada, um pesar violento, os excessos de estudos, a ambição
malograda, o amor próprio humilhado, o ciúme, os acontecimentos políticos, os
pesares domésticos, o amor contrariado, o fanatismo, etc."
"Sintomas. A invasão da loucura é
lenta ou súbita; mas de qualquer maneira que principie, eis aqui os sintomas
gerais que lhe são próprios. Ordinariamente as impressões feitas sobre um ou
mais sentidos são vivamente percebidas ou mal julgadas. Assim, os doidos umas
vezes percebem vivamente e com desagrado a luz, os sons, os cheiros ou sabores;
outras vezes tomam um objeto, um indivíduo, um ruído, etc. por outros. As vezes
veem pessoas, ouve vozes ou sons, e sentem cheiros que não tem realidade
nenhuma e não existem a não ser em seus cérebros doentes."
"As desordens das faculdades
intelectuais são extremamente variadas, e apresentam frequentemente a singular
mistura de perfeita razão em certos pontos com delírio completo em outros. Em
quase todos os alienados a lembrança do passado é preservada, mas a indiferença
completa ou aversão para com seus parentes, filhos e amigos, substituem os
sentimentos de afeição; uma paixão, como a alegria e a tristeza, o medo e o
terror, o pesar e o transporte, a astúcia e a malícia, o orgulho e a vaidade, a
inclinação ao suicídio e o homicídio, os desejos amorosos, dominam a desordem intelectual."
"Os alienados cometem as vezes
homicídio, doidos furiosos atiram-se, em seus acessos, a tudo quanto encontram.
Uns imaginam reconhecer, nas pessoas que os rodeiam, inimigos, espiões, gênios
malfazejos, carcereiros, dos quais julgam dever vingar-se; outros julgam que
Deus ou uma voz interna, mandam-lhes matar tal ou qual indivíduo. O doutor
Pinel cita o fato de um alienado que, em dois diferentes paroxismos, matou
filhos seus para purifica-los por um batismo de sangue, e fez muitas tentativas
desse gênero sobre outras pessoas, sempre pelo mesmo motivo."
"Os sintomas da loucura
oferecem-se ao observador sobre três aspectos principais. As vezes o delírio
tem só por objeto uma ideia fixa, dominante, exclusiva, ou consiste na
exageração de uma paixão ou de uma inclinação, e em geral o doente discorre com
muito acerto quando está distraído do objeto que o preocupa, esse gênero de
loucura foi chamada de monomania. Outras vezes o delírio é geral e estende-se a
tudo, é sempre acompanhada de exaltação, e frequentemente de furor, toma então
o nome de mania. Outras vezes, enfim, a uma indiferença ou apatia moral
junta-se a inatividade, o enfraquecimento ou a perturbação completa da
inteligência; isto é, a demência."
"Eis aqui as variedades principais
da monomania. Uns julgam-se reis, imperadores, papa, profetas, rainhas,
princesas, e suas ações correspondem a essas ideias; outros queixam-se de ter
perdido a amizade das pessoas que lhe são mais caras; estes têm desejos
venéreos violentos; aqueles a cabeça preocupada de um objeto que adoram; que
ornam de todos os encantos, aos qual fala sem cessar (erotomania). Alguns são
atormentados por escrúpulos religiosos, perseguidos pelo medo do inferno
(monomania religiosa). Outros julgam-se em poder do diabo (demoniomania). Em
alguns monomaníacos a tristeza, o aborrecimento, o pesar, o temor, são sintomas
dominantes (melancolia); em outros predomina o ódio a seus semelhantes
(misantropia). Há alguns que se julgam transformados num indivíduo de outro
sexo, ou em cão, leão, pássaro, etc."
"Duração e prognóstico. A loucura
não é sempre continua, de ordinário é intermitente. A sua duração é variável,
assim, pode ser somente de oito a quinze dias, ou alguns meses na mania, mas
muitas vezes e de um ou muitos anos, e até pode durar toda a vida. A loucura
pode curar-se pela reaparição de uma secreção ou de uma hemorragia suprimida,
por vômitos, evacuações alvinas abundantes, por suores, hemorragias
espontâneas, e além disto pela maior parte das observações morais vivas."
Dicionário de Medicina Popular e
das Ciências Acessórias de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 1890.