sábado, 14 de maio de 2016

CLAUDIO MAGALHÃES DA SILVEIRA


O pesquisador Etevaldo Amorim, das Alagoas, me clareou que o sanitarista Claudio Magalhães da Silveira (formado em 1932), diretor da Saúde Pública em Sergipe durante o Governo de Eronides Carvalho; e Mario Magalhães da Silveira (formado em 1926), no mesmo ano de sua esposa, Nise da Silveira, são pessoas diferentes, primos, os dois médicos sanitarista alagoanos. Faço aqui uma retificação de um artigo publicado anteriormente por mim. Porém, Mario Magalhães da Silveira, o esposo de Nise da Silveira, também ocupou o cargo de Diretor da Saúde Pública em Sergipe, só que durante o segundo Governo do General Augusto Maynard, e que Nise e Mario viveram em Sergipe no período em que estavam na clandestinidade durante o Estado Novo.
Etevaldo Amorim esclareceu: “Mário e Claudio eram irmãos. Os Magalhães da Silveira formaram uma família de grande prestígio em Alagoas: Clemente Magalhães da Silveira foi Senador Estadual; Luiz Silveira foi jornalista, fundador do Jornal de Alagoas; Faustino, pai de Nise, professor; José Magalhães da Silveira (pai de Claudio) era comerciante. Mas o mais famoso deles foi Bonifácio Magalhães da Silveira, o famoso “Major Bonifácio”. Figura de grande influência nos meios culturais e artísticos da época. A música Carapeba, composta por Luiz Bandeira e Julinho e interpretada por Luiz Gonzaga, falava nele:”
“Bonifácio, Major do povo
Velhinho novo a comandar
Carapeba por onde passa
Faz som de graça prá se brincar”.

PRIMEIRO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE SERGIPE




Colônia Eronides Carvalho - Primeiro Hospital psiquiátrico de Sergipe localizava-se nas imediações do povoado Sobrado, em Socorro. (foto rara, do arquivo do pesquisador alagoano Etevaldo Amorim).

A passagem do médico Eronides Ferreira de Carvalho pelo Governo de Sergipe (1935 – 1941), foi proveitosa para a Saúde Pública. Organizou o Departamento Estadual de Saúde Pública, incorporando o Instituto Parreiras Horta, o Instituto de Química e Bromotalogia, os serviços de pronto socorro e de assistência dentária e escolar. Nomeou como Diretor da Saúde Pública, um sanitarista de renome nacional, Claudio Magalhães da Silveira. Contratou uma enfermeira diplomada pela Escola Ana Nery, do Rio de Janeiro, e montou uma bem treinada equipe de 12 visitadoras sanitárias.

Transformou uma antiga cadeia pública no Palácio Serigy (inaugurado em 27 de novembro de 1938), sendo considerado o melhor centro de saúde do Nordeste; construiu o primeiro hospital psiquiátrico, Colônia Eronides Carvalho; o leprosário, Colônia Lourenço Magalhães, com 76 leitos, iniciou a construção do hospital Sanatório (tuberculose) e do hospital Infantil (anexo ao hospital de Cirurgia).

Somente em meados de fevereiro de 1941 cerca de 45 doentes mentais deixaram as dependências da Penitenciária Modelo, onde até então eram enclausurados em Sergipe, e são transferidos para o Hospital Colonia, recentemente inaugurado na fazenda Santa Rosa. Em outras palavras, somente a partir de 1941 é que os doentes mentais em Sergipe passam a receber assistência médica, pois até essa data eram trancafiados na penitenciária junto com os criminosos. O fato gerou um grande acontecimento em Aracaju, a população saiu às ruas para acompanhar extasiados a novidade. Os doidos foram fotografados, para assinalar esse fato histórico.
 
Esse hospital colonia destinado ao atendimento dos alienados mentais estava localizado a cerca de 10 Km de Aracaju, na fazenda Santa Rosa, nas proximidades do atual povoado Sobrado, município de Socorro, estava estruturado para acomodar até 102 pacientes. Sua estrutura era formada por oito pavilhões, assim distribuídos: um pavilhão administrativo, onde funcionavam a diretoria, a secretaria, apartamento para o médico interno, laboratório, farmácia, biblioteca, gabinete dentário, de otorrinolaringologia, almoxarifado e sala para pequenas cirurgia; dois pavilhões para os calmos (masculino e feminino); dois pavilhões para os agitados; um pavilhão de refeitório; um pavilhão de rouparia e um outro para a capela e o necrotério.

Era considerada como uma cidade de portas abertas, uma psicolândia, onde estavam também previstas atividades esportivas e de lazer, introduzindo a proposta de ludoterapia. Para quem acabava de sair da cadeia pública tudo isso não deixava de ser uma grande novidade. Completando as ações hospitalares, também funcionava no Serigy um moderno ambulatório para o tratamento de doenças nervosas e mentais, e um escritório de higiene e profilaxia mental. Para a manutenção dessa estrutura foi criado um novo tributo: a taxa de assistência aos psicopatas.


Uma pena que a saúde pública em Sergipe dificilmente transformas as boas intenções em realidade. Com pouco tempo de funcionamento, a Colonia Eronides Carvalho estava com as paredes rachadas, pouco zelo na construção, e os doentes aguardando um local para a sua transferência. 

ANTONIO MILITÃO DE BRAGANÇA.




(OBSERVAÇÃO DE DOIS CASOS DE AMIGDALOTOMIA COM APLICAÇÃO DE COCAÍNA, pelo Dr. Antônio Militão de Bragança).

 Lendo em um dos números da Revista de Medicina, de Paris, a descrição de um caso de amigdalotomia praticada pelo Dr. Millard, no hospital de Beaujon, na qual empregou o ilustre médico a cocaína como anestésico, por minha vez lembrei-me de, oportunamente, estudar e apreciar os efeitos surpreendentes de tão precioso agente terapêutico. De posse desse alcalóide, proporcionando-me ultimamente a clínica dois doentes afetados de amigdalite crônica, operei a ambos e tive então ocasião de observar os resultados da anestesia cocaínica. O primeiro operado foi um menino de sete anos de idade, filho do do Sr. Capitão Antônio Luiz da Silva Tavares. A tonsila direita apresentava um volume extraordinário, ocupando quase todo o istmo da garganta. A esquerda estava ligeiramente hipertrofiada. Fiz, com intervalos de cinco minutos, quatro aplicações com um pincel embebido em uma solução de Cloridrato de Cocaína a 20% em toda a superfície de ambas as amígdalas e, seis minutos depois da última aplicação, a anestesia era completa. Imediatamente pratiquei a secção da tonsila direita, sendo a dor acusada pelo pequeno doente quase nula. O segundo operado foi um rapaz de quinze anos de idade, filho do Sr. Manoel José d’ Oliveira. Ambas as amígdalas estavam enormemente hipertrofiadas. Como no caso precedente, fiz as aplicações da mesma solução de Cloridrato de Cocaína. Anestesiadas as hipertrofiadas tonsilas, pratiquei sucessivamente a sua extirpação, não acusando o paciente a menor dor. Em ambos os casos servi-me do amigdalótomo de Loryenne. A observação do Dr Millard refere-se a uma rapariga de quinze anos de idade, cujas amígdalas estavam hipertrofiadas a tal ponto que se tocavam de cima a baixo, obstruindo completamente o istmo da garganta. Feitas as aplicações da solução anestésica, procedeu o ilustre médico do hospital de Beaujom a amigdalotomia, não demonstrando a doente o menor indício de sofrimento. Estas observações, feitas em pessoas de sexo e idade diferentes, provam exuberantemente as propriedades analgésicas da cocaína, deixando prever os resultados brilhantes que pode colher a cirurgia com o emprego desse alcalóide em muitas outras operações de garganta. Brevemente apreciarei a influência anestesiante da cocaína em algumas operações de olhos que tenho de praticar.

 _Pão de Açúcar(AL), 28 de setembro de 1885. (Publicado no jornal O TRABALHO, edição de 3 de outubro de 1885).  

_ (Republicado no Blog do pesquisador Etevaldo Amorim, em 27/11/2009).

ANTÔNIO MILITÃO DE BRAGANÇA Nasceu em 31 de julho de 1860 em Laranjeiras/SE, filho de Dr. Francisco Alberto de Bragança e Possidônia Maria de Santa Cruz Bragança. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 15 de dezembro de 1883, defendendo a tese “Paralisias Consecutivas às Moléstias Agudas”. Recém-formado, transferiu-se para o Rio de Janeiro por breve espaço de tempo e voltou para Laranjeiras onde montou consultório na Rua Direita. Informado da inexistência de médico em Pão de Açúcar/AL, transferiu-se para esta cidade ribeirinha, onde permaneceu por sete anos. Em 1892 regressou a Laranjeiras. É patrono da cadeira dois da Academia Sergipana de Medicina. Faleceu em 27 de março de 1949, em Aracaju/SE, com 89 anos. 

Foto: Hospital São João de Deus, em Laranjeiras.