segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os médicos no Brasil Colônia.

Os médicos no Brasil Colônia.

Antonio Samarone
Academia Sergipana de Medicina.

Entender a medicina praticada no Brasil Colônia nos remete para a compreensão da medicina em Portugal. Como Portugal formava seus Físicos (médicos)? O ensino da medicina não se estabeleceu nas comunidades monásticas, foram para as universidades nascentes. Salerno, ao sul da Itália, foi uma das primeiras. Montepellier, Paris, Bolonha, Salamanca, Valladolid, entre outras.
Em Portugal, o ensino da medicina começou no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, fundado em 1130, por D. Afonso Henrique, o mesmo príncipe que declarou a autonomia do Condado Portucalense (1128). A ciência hipocrática era apanágio dos religiosos, que a ensinavam e a praticavam.
A universidade portuguesa foi fundada em 1290, por D. Dinis, e constava das seguintes matérias: Cânones, Leis, Gramática, Lógica e Medicina.
A universidade no inicio ficava em Lisboa, depois Coimbra, depois voltava para Lisboa e, finalmente, em 1537, estabeleceu sua sede em Coimbra.
Da fundação até 1493, a medicina constava de uma cadeira, dominada pelos religiosos, tratava-se da leitura das obras de Hipócrates. Daí para frente, até 1540, foram dois lentes, (por porque liam); um de “prima”, pela manhã, lia as obras de Galeno; e outro de “véspera”, pela tarde, lia as obras de Hipócrates. Em 1940, foi criada a cátedra da “tertia” hora, a partir das 10 da manhã, onde eram lidos os autores árabes (Rhazes, Averrois e Avicena). O trabalho manual era considerado indigno, coisa de cirurgiões.
Depois de aprovado em gramática e em lógica, o aluno poderia ser matriculado no curso de medicina. Com três anos, o aluno era graduado como Bacharel em Artes e medicina; com mais um ano, obteria o título de licenciado; e após cinco anos, após a defesa de “conclusões magnas”, receberia o grau de doutor.
Somente em 1556, foram criadas outras catedrilhas, entre as quais a de anatomia, para ler “De uso Partium”, obra de Galeno; e uma cadeira de cirurgia teórica. A prática hospitalar e o ensino da clínica somente tiveram inicio em 1562, no Hospital Real de Coimbra. Este quadro só mudou com a Reforma de Pombal, em 1772. Enquanto o resto da Europa ensaiava mudanças, com o advento das descobertas da medicina, Portugal permanecia na leitura dos antiquados textos medievais.
Com a reforma de Pombal, o aspirante a carreira médica deveria saber falar latim, ter conhecimento do grego, da filosofia moral e racional, e manejar inglês ou francês. O curso passou a ser composto por cinco cadeiras: matéria médica e farmácia no primeiro ano; prática das operações e obstetrícia no segundo; teoria médica com prática no terceiro, onde se ia para o hospital; aforismos de Hipócrates e prática hospitalar no quarto; prática de medicina e de cirurgia, no quinto. Com cinco anos o aluno recebia o grau de bacharel em medicina e cirurgia, com mais um ano e a defesa da tese, se obtinha o título de licenciado e de doutor. Em 1783, com a criação da cadeira terapêutica cirúrgica, a cirurgia elevou-se ao nível da medicina.
Nos séculos XVII e XVIII, o ensino da cirurgia se fazia separadamente, e constava do aprendizado da trepanação, operação da hérnia, cauterização de tumores, lancetamento de abscessos e tumorações, extração de cálculos vesicais e operação de cataratas. Após o estágio, o aluno recebia o título de cirurgião aprovado.
Fonte de referência: História Geral da Medicina Brasileira, Lycurgo Santos Filho, Vol. I.