quarta-feira, 30 de agosto de 2017

AS MATERNIDADES DE ARACAJU (ou oito ou oitenta)


As maternidades de Aracaju (ou oito ou oitenta).

Em junho de 2012, o prefeito Edvaldo Nogueira enviou uma proposta ao governo federal no valor de R$ 15.600.000,00, para construção de uma maternidade no bairro 17 de Março. Em 26 de dezembro de 2012 o convênio foi assinado. Em dezembro de 2015, a prefeitura recebeu a primeira parcela de R$ 1.160.000,00. A administração de João Alves iniciou as obras através da Empresa HECA, chegou a concluir as fundações, e não sei porque as coisas não andaram. Dinheiro público já foi enterrado nessa maternidade.

Em janeiro desse ano, voltando Edvaldo, a ideia de recomeçar a construção da maternidade municipal ressuscitou.  Seria uma maternidade com 50 leitos e uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), com 25 leitos. A maternidade do município teria a capacidade de realizar 500 partos por mês. Em Aracaju realizam-se mil partos por mês de risco habitual e só temos uma maternidade, a Santa Isabel. A nova maternidade iria portanto dividir a demanda. O discurso está correto e foi promessa de campanha.

Só que Zé Almeida apareceu com uma novidade. Começou a reformar e anunciou que vai reabrir em setembro mais uma maternidade estadual em Aracaju, a Hildete Falcão Batista, com 62 leitos, para realização de partos com risco habitual. Aracaju possui outra maternidade estadual, a Nossa Senhora de Lourdes, só que destinada a partos de alto risco. A nova Hildete Falcão terá 35 leitos de internação, quatro para a ala cirúrgica, um para o isolamento e sete para o pré-parto. Serão instalados ainda dez novos leitos de UTI neonatal (Utin) e cinco leitos de Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (Ucin), ocupando o mesmo espaço que a finada maternidade do município deveria ocupar.

Você pode estar perguntando: qual seria o problema de Aracaju receber duas novas maternidades? Com a demanda de mil partos mensais, que hoje se vira com a maternidade do Santa Izabel, passaremos a ter mais duas maternidades, uma do município e outra do estado. Ocorre, que os recursos repassados pelo Ministério da Saúde para o custeio da assistência ao parto não vão aumentar um centavo porque resolveram abrir mais duas maternidades. Recursos para investimento em construção, reforma e compra de equipamentos sempre aparecem, uma emenda parlamentar aqui outra acolá; mas os recursos para o custeio estão congelados por vinte anos (PEC do teto). O estado e o município já andam com a corda no pescoço. Os recursos próprios destinados à saúde são quase na sua totalidade aplicados no pagamento da folha de funcionários. A pergunta é óbvia: sem previsão de recursos novos para o custeio, existe alguma possibilidade dessas duas maternidades públicas funcionarem decentemente?

PS: para complicar a análise, fui informado que o Hospital Universitário da UFS, em Aracaju, também está iniciando a construção de uma maternidade com 117 leitos. O fim do planejamento!

Antônio Samarone.

sábado, 26 de agosto de 2017

DOMINGOS GUEDES CABRAL


DOMINGOS GUEDES CABRAL –  Clínico em Laranjeiras, SE.

Nasceu na cidade de Salvador em 29 de outubro de 1852, filho do educador Domingos Guedes Cabral e de dona Faustina Maria do Nascimento Cabral, teve quatro irmãs, Virgínia, Laura, Adelaide e Sophia e um irmão, Aristides Guedes Cabral. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1875, defendendo a tese “Qual o Melhor Tratamento da Febre Amarela”. A sua tese original “Funções do Cérebro” foi rejeitada pela Congregação da faculdade “por conter doutrinas contrárias à religião oficial do Estado” e pelo seu total materialismo, inclusive preconizando que o interesse deveria ser só científico e livre das pregações bíblicas. Sustentava Guedes Cabral que a alma é apenas uma função fisiológica como qualquer outra e que a cosmogonia de Moisés é insustentável perante a ciência. Esse livro causou grande sensação e provocou, sobretudo por parte do clero, uma verdadeira reação.

Guedes Cabral se declarava darwinista e francamente materialista. Foi a única tese doutoral reprovada pela Faculdade de Medicina da Bahia em toda a sua história. Segundo Ricardo Waizbort e col., “Funções do cérebro foi, ao lado da tese de doutorado de Sylvio Romero, o texto mais importante sobre o evolucionismo da geração de 1870 no Brasil. Romero defendeu seu título de Doutor na Escola de Direito do Recife, em 1875, e o trabalho foi publicado sob a forma de livro em 1878, com o nome de Filosofia do Brasil. Não por acaso, Romero elogiou muito o livro de Guedes Cabral, por sua coragem em adotar uma teoria que desafiava o saber religioso, enquanto apontava saída científica para problemas nacionais, como a criminalidade e a loucura.”

Guedes Cabral atuou depois de formado atuou como clínico na cidade de Laranjeiras por oito anos, exercendo forte influência intelectual sobre os médicos republicanos, a exemplo de Felisbelo Freire. Segundo Luiz Antônio Barreto, Laranjeiras era, em Sergipe, um centro de irradiação cultural, desde 1876, quando o médico baiano Domingos Guedes Cabral chegou, com suas ideias evolucionistas. Regressou para a terra natal acometido pela tuberculose, falecendo em 27 de janeiro de 1883, com 31 anos.


Domingos Guedes Cabral enxergava longe: “Um delito é o efeito de um pensamento incompleto ou vicioso, que é por sua vez o parto de um cérebro viciado. O mal filosófico é apenas uma enfermidade. A moral, e com ela o direito, devem ceder alguma coisa à patologia. Ao que a sociedade chama um perverso, ao que os códigos chamam um criminoso, a ciência chamará um dia apenas – um doente..., a ciência verificará um dia que não há mais do que um desarranjo anatômico, ou desvio da ação fisiológica. Os exorcismos, as penitenciárias, os patíbulos, cederão lugar à mão sábia do médico e à droga farmacêutica... felizmente para a humanidade enfim, essas monstruosidades jurídicas, esses pavorosos escândalos sociais – as masmorras, o grilhete e o cadafalso – substituir-se-ão pelas casas de saúde, pelos hospícios de caridade, pelos cuidados carinhosos, solícitos, sábios, perscrutadores e humanitários da ciência”. (Citado por Juanma Sánchez Arteaga, e cols,).
Antonio Samarone. 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O NEGÓCIO DA SAÚDE (primeiro episódio)


O NEGÓCIO DA SAÚDE...  (Primeiro episódio)

A saúde tornou-se o bem mais desejado da humanidade (já foi a salvação da alma). Não conheço quem prefira a doença. Qualquer produto ou serviço que prometa manter ou recuperar a saúde passou a ser consumido com avidez. Medicamentos, exames, alimentos, Spa, exercícios, assistência médica, massagens, produtos naturais, autoajuda, etc. O capitalismo logo descobriu que existia muita gente disposta a comprar a saúde a qualquer preço. Isso não podia ficar em mãos de amadores. A primeira linha de produtos a virar mercadoria no setor saúde foram os remédios. Logo após a Segunda Guerra, o que antes era produzido artesanalmente por farmacêuticos, em pequenos laboratórios; prescritos levando-se em conta a individualidade de cada paciente; passou a ser produzido industrialmente, em larga escala, assumindo a condição de mercadoria. Para isso, os medicamentos foram padronizados, receberam uma marca comercial, e passaram a ser consumido por todos nas mesmas composições e dosagens. Parece que deu certo, tem idosos consumindo diariamente dezenas de medicamentos.

Essa consolidação do setor saúde como atividade econômica, criou novos mercados, novas ocupações, novos consumidores. Ninguém tem mais sossego com o bombardeio da mídia, ouvindo especialistas a ensinar o que devemos comer ou deixar de comer. As orientações, sempre em tom professoral, são acompanhadas do aval científico: esse alimento elimina o colesterol, aquele evita a queda de cabelo, esse outro retarda o envelhecimento, reativa a libido; e por aí vai. Não importa se a pesquisa existiu mesmo, se foi uma pesquisa criteriosa ou de encomenda, nada, basta citar: uma pesquisa feita na Austrália descobriu isto ou aquilo... quem vai conferir? Basta a fé. É o mesmo que um crente querer conferir se tradução da bíblia do aramaico está correta. Também não importa se o certo e o errado, o que pode e o que não pode mudem a cada 24 horas. Quem vai se preocupar com coerência. O ovo, a banha de porco, carnes vermelhas, as gorduras, passam de veneno a salvação num simples bater de olhos. O mercado tá se lixando, desde que os lucros não cessem. O meu receio é que a ciência descubra que a vida saudável só é possível comendo-se capim. Pela idade, acho que o pastar agravaria a minha dor nas costas.

A esperança de uma vida saudável tem levado muita gente ao sacrifício de certas dietas, verdadeiras penitências. O que antes servia para a absolvição dos pecados ou concessão de alguma glória, hoje serve para a eliminação de gorduras. O ritual é o mesmo. A salvação da alma ou do corpo seguem os mesmos caminhos. Até o velho sentimento de culpa é o mesmo. Muda-se a dúvida: fazer isso é pecado/comer isso pode? E quando se come o que não se pode o arrependimento bate na hora, profundo. Foi a última vez; amanhã (ou segunda) eu começo a dieta para valer. As seitas proliferam: os “vigilantes do peso” e os “seguidores do Shakes dos últimos dias” são as que mais cresceram. O mercado das dietas é absoluto. Se não der certo é porque o infeliz não obedeceu às regras, não teve força de vontade, portanto, não é merecedor da graça da saúde. A culpa é sempre do pecador.
Antônio Samarone.

(Segue...)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Hélio Araújo


Dr. Hélio Araújo (73 anos) – O primeiro neurocirurgião de Sergipe. Natural de Riachão do Dantas, filho de seu Adel, de família de seleiros de Simão Dias, e de dona Helena. Nasceu em 24 de maio de 1944. Fez o primário na Escola Reunida Comendador Dantas e no Grupo Escolar Lourival Fontes. O ensino em Riachão estava restrito ao primário, os meninos pobres estavam condenados a parar por aí. A família começou a procurar uma saída, um tio arrumou uma bolsa de estudos e veio morar na casa de uma prima em Aracaju, com uma condição, se não estudasse voltava. Em 1957 iniciou o Ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo (guardou o medo da professora Judite) e concluiu no Atheneu.

Hélio Araújo chegou no Atheneu em 1959 e saiu em 1963, numa fase de ebulição política. Participou do movimento estudantil, das passeatas, agitações, do CPC da UNE, envolveu-se e acreditou que poderia mudar o Brasil, como tantos da sua geração. Ao mesmo tempo, estudava e tirava boas notas. Tomou gosto pela leitura desde jovem. Nessa entrevista fez questão de nos mostrar a sua biblioteca que, pelos livros, revela a profundidade da sua cultura. O dr. Hélio cultiva a boa música, possui uma educação musical adquirida com a professora Cândida Ribeiro no Colégio Atheneu. Isso mesmo, ensinava-se “canto orfeônico”, uma ideia de Villa Lobos que foi implantada nas escolas públicas.

A decisão de ser médico foi tomada muito cedo. Em 1952, ocorreu um surto de febre tifoide em Riachão, com quatro membros de sua família afetados, à beira da morte. A família recorreu ao dr. Bernardino Mittidiere. Mesmo com recursos escassos, o cloranfenicol ainda não tinha chegado a Sergipe, o dr. Mittidiere com a sua experiencia clínica, dedicação, postura humana, conseguiu livrar da morte quem já estava com o pé na cova. O exemplo do dr. Bernardino tocou Hélio Araújo que decidiu que seria médico, com apenas oito anos.

Hélio Araújo entrou na faculdade de medicina de Sergipe em 02 de março de 1964, no dia 31 já estava nas ruas na ilusão de que os estudantes poderiam conter o golpe. Em 1966 entrou na Ação Popular (AP), uma organização de esquerda organizada pelos militantes da Juventude Universitária Católica (JUC). Hélio foi o quarto presidente do Centro Acadêmico Augusto Leite. Durante a formação médica acompanhou inicialmente o dr. Oswaldo Leite, em seu ambulatório de oncologia. Depois seguiu os drs. Francisco Bragança e Fernando Felizola, numa formação cirúrgica de qualidade. Após um estágio realizado em Recife, decidiu que seria neurocirurgião. Como estudante assistiu e filmou a última cirurgia do dr. Augusto Leite, uma histerectomia. Contudo, esse filme que documentou a despedida do maior nome da medicina em Sergipe no século XX encontra-se desaparecido.

A formatura de Hélio Araújo estava marcada para 18/12/1969, entretanto, devido a morte do Presidente Costa e Silva, foi transferida para 28 de dezembro. Hélio ficou com medo de não se formar, pois durante o curso, a ditadura determinou a expulsão de alguns alunos considerados subversivos da Universidade, e do curso de medicina estavam na lista Ilma Fontes, Janete Figueiredo, Marinice Martins e Hélio Araújo; a expulsão não ocorreu devido à resistência decidida do Reitor João Cardoso do Nascimento Junior. A formatura foi um atropelo, pois no dia 02 de janeiro ele deveria apresentar-se no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro para iniciar a residência médica em neurocirurgia. Retornou à Sergipe em 1972, e procurou montar um serviço no Hospital São José, não obtendo sucesso. Terminou montando o primeiro serviço de neurocirurgia de Sergipe no velho Hospital de Cirurgia.


Em 1973, foi aprovado no concurso para professor da Faculdade de Medicina mas teve a sua nomeação protelada pelas forças do SNI dentro da UFS, tomando posse somente em 1974. Teve uma participação ativa como professor, ocupando vários cargos na gestão da faculdade, sempre como posições firmes, e aberto ao diálogo com os estudantes. Hélio Araújo foi uma referência para o movimento estudantil de medicina da UFS. Em 1977, Hélio Araújo foi aprovado no concurso para médico do INAMPS.  Em 1974, casou-se com a médica e também professora de medicina dra. Izabel Maynart, tendo três filhos, Alcides, biólogo, Aída, dentista, e Arthur, neurocirurgião; e uma neta, Rafaela.

ANTONIO SAMARONE. 

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - José Teles de Mendonça



José Teles de Mendonça (Zeca), um doutor de verdade – nasceu no Sítio Aracati, no 18 do Forte, Aracaju, em 02/06/1950; filho do seu Tonico e dona Hermínia; e neto do lendário Major João Teles, comunista dos tempos de Luiz Carlos Prestes. O dr. Teles fez o primário com a professora dona Sinhá; e o temível exame de admissão no Colégio Atheneu, de passado glorioso. Durante o curso ginasial, puxou diariamente a pé do 18 do Forte ao Colégio sem reclamar. Menino pobre, o pai injustamente expulso do Exército acusado de comunista, sem nunca ter sido; pagando pelo Major, o sogro. O dr. Teles meteu a cara nos livros com a pretensão de ser mecânico; o que o seu pai consertava, engenheiro mecânico. A escola pública era o caminho para a cidadania. As dificuldades financeiras eram de tal ordem, que durante os sete anos que estudou no Atheneu, Teles foi duas ou três vezes na cantina. Menino do subúrbio, lateral direito de destaque nos times de peladas, Zeca incorporou uma disciplina quase militar e estudava com disposição.

Um fato expressa bem a personalidade que estava em formação: Teles gostava de frequentar o Batistão, torcer pelo Confiança; e como não tinha dinheiro para o ingresso conseguia entrar fortuitamente por um canto que tinha um manguezal. Num grande jogo a maré estava cheia, pelo manguezal não dava, resolveu pular o muro, ali do lado dos antigos prédios da UFS. Subiu primeiro num telhado de casa, alcançou o muro, e num ato de coragem, pulou incontinente para dentro do estádio. Por azar, o segurança estava escondido atrás da coluna, e não teve compaixão e ordenou, pule de volta. Como, indagou o menino assustado, o muro tinha quase quatro metros de altura. Não quero saber, pule de volta, insistia a autoridade... Não havia jeito, quatro metros. O segurança pegou o menino de treze anos pelo braço, subiu os degraus da arquibancada e desfilou com o jovem infrator para exibi-lo como um troféu aos presentes. Nesse momento o grande desespero de Teles era que o Pai estivesse no campo e assistisse aquela cena de humilhação. A vergonha foi tanta, que a partir desse dia, até hoje, aos 67 anos, Teles nunca mais pisou os pés num campo de futebol.

O menino que queria ser mecânico, foi aprovado no vestibular de medicina em 1969, sem ter passado por nenhum cursinho e antes das cotas. Foi monitor de anatomia e de cirurgia, e a partir do segundo ano de medicina passou a morar no Hospital de Cirurgia. Morar mesmo, arrumou um quarto desocupado no antigo Hospital Infantil e se mudou, de mala e cuia. Dormia e acordava dentro do hospital. Quando chegava um cadáver para a anatomia, no outro dia já amanhecia dissecado, Teles passava a noite bisbilhotando o morto. Não perdeu tempo, entrou na equipe de Cirurgia de Bragança (o velho), Djenal e Felizola; o que tinha de melhor na antiga cirurgia, onde se fazia de tudo. No quarto ano Teles já operava sozinho. Durante o curso de medicina foi professor de física no Atheneu, de onde tirava a sobrevivência. No tempo que sobrava, metia-se nos plantões do Pronto Socorro. Só fazia estudar. Ao final do curso, em 1974, resolveu que deveria sair de Sergipe para especializar-se em cirurgia torácica. Durante a residência médica de dois anos no Rio de Janeiro, as circunstâncias levaram-no para a cirurgia cardíaca. 
     
De volta a Sergipe, em 1977, foi dirigir a primeira UTI de Sergipe, criada pelo Dr. José Augusto Barreto no Hospital de Cirurgia, em 1972. Em paralelo, o Dr, Teles iniciou a organização do primeiro serviço de cirurgia cardio torácica em Sergipe. Em parceria com novos cirurgiões, Valdinaldo e Calumby, montou uma equipe de estudantes (Marcos Ramos, Marcos Lemos, Geodete Batista, Luíza Dórea, Edson Franco e Rika Kakuda), essa foi a primeira “liga” organizada em Sergipe. Dessa equipe também participou o atual Prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, que segundo o Dr. Teles, “o Prefeito era um aluno interessado, inteligente, habilidoso e possuía um talento evidente para a cirurgia”.

No dia 12 junho de 1969, foi realizado a primeira cirurgia cardíaca em Sergipe. A equipe de médicos, liderada pelo Dr. Mauro Arruda do Instituto de Cardiologia de Recife, auxiliado pelos Drs. Fernando Sampaio e Antonio Eduardo Conde Garcia, e assistida pelos clínicos Gilton Machado Resende, José Augusto Barreto e Diertrich Todt; atuou como anestesista o Dr. José Carrera e o acadêmico Hélio Araújo como instrumentador. A histórica cirurgia consistiu na implantação epicárdica de um marca-passo, no paciente Manuel Pedro de Menezes, de 65 anos de idade. A cirurgia durou três horas e foi realizada no Hospital das Clínicas Dr. Augusto Leite.  Em julho de 1978, o Dr. Teles realizou a primeira cirurgia cardíaca em Sergipe, com circulação extracorpórea, na paciente Ermita Gonzaga. Em julho de 1986, a mesma equipe do Dr. Teles realizou o primeiro transplante cardíaco em Sergipe. O serviço de cirurgia cardíaca funciona atualmente no Hospital do Coração e já realizam mais de dez mil cirurgias.


Em 1977, o Dr. Teles tornou-se professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da UFS. Hoje é um profissional reconhecido mundialmente, trabalhos publicados em importantes revistas científicas, criador de técnicas cirúrgicas que levam o seu nome, pesquisador reconhecido, postura ética humanista, e muita simplicidade. Dr. Teles é casado com Lícia Resende, odontóloga, pai de dois filhos, Vivian e Victor, e avô de quatro netos. Ao final, perguntamos ao Dr. Teles o que seria um bom médico, e ele resumiu: “o bom médico é que sempre escuta o paciente, algumas vezes com os ouvidos, outras vezes com os olhos, e sempre com o coração.”
Antonio Samarone de Santana.