quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

MEMÓRIAS DA LOUCURA EM SERGIPE



Doença Mental.

Antonio Samarone de Santana
Academia Sergipana de Medicina.

O Jornal Correio de Aracaju, edição de 23 de fevereiro de 1943, divulgou com grande ênfase uma carta aberta do Dr. Garcia Moreno (foto), Diretor da Colônia de Psicopatas, anunciando importantes incorporações tecnológicas da psiquiatria sergipana. Observem os termos mais esclarecedores da missiva:
“Comunico que desde outubro de 1942 o nosso Hospital Colônia de Psicopatas inclui em seus trabalhos rotineiro, ao lado da aplicação mais antiga dos métodos de Sakel e Meduna (insulina e cardiazol), a convulsoterapia de Cerletti e Bini”.
“Possuímos um aparelho de eletrochoque terapia fabricado pela Offener Electronies, dos Estados Unidos, do tipo mais moderno e portador das mais recentes inovações técnicas, de notáveis vantagens práticas (máquina de curar louco). Custou ao Governo Estado perto de treze mil cruzeiros e chegou a Aracaju por via aérea, o aparelho pesa menos de oito quilos”.
“Quase quarenta pacientes já foram, entre nós, submetido ao método de Cerletti, num total de crises convulsivas que andam perto de novecentas”.
A convulsoterapia elétrica era apontada como um grande avanço para psiquiatria pelas seguintes vantagens: baixo custo; rapidez na aplicação; e substituir a convulsoterapia cardiozóliza, muito temida pelos pacientes devido à elevada freqüência de fratura de costelas.
Continua Dr. Garcia Moreno em sua carta:
“Aqui, como em outras partes, duas a três aplicações semanais de uma corrente elétrica de 450 miliampere, durante 0,2 segundos através do cérebro, tem em pouco mais de um mês reconduzido a vida psíquica normal homens e mulheres”.

“Como se vê, a psiquiatria não é mais uma especialidade médica de literatos e filósofos. Não na medicina moderna, afora a cirurgia, setor de maiores ousadias técnicas. Como se vê, o doente mental encontra hoje recursos terapêuticos tão eficientes quanto os que beneficiam as demais especialidades médicas”.
Entre 1917 e 1935, quatro métodos para produzir choque fisiológico nos psicopatas foram descobertos, testados e usados na prática psiquiátrica, todos no continente europeu: Febre induzida por malária, para tratar paresia neurosifilítica, descoberta em Viena por Julius Wagner-Jauregg, em 1917; Coma e convulsões induzidas por insulina, para tratar esquizofrenia, descoberta em Berlim por Manfred Joshua Sakel, em 1927; Convulsões induzidas por metrazol, para tratar esquizofrenia e psicoses afetivas, descoberta em Budapest por Ladislaus von Meduna, em 1934, e Terapia por choque eletroconvulsivo, descoberta por Ugo Cerletti e Lucio Bini em Roma, 1937.
A narcose, sono prolongado por cerca de dez dias induzido por drogas como hidrato de cloral, paraldeído e barbitúricos, foi um método terapêutico introduzido pelo psiquiatra suíço Jakob Klaesi, em 1922.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

POR QUE O MOSQUITO CONTINUA GANHANDO A GUERRA?

Por que o Aedes aegypti continua ganhando a guerra?

ANTONIO SAMARONE DE SANTANA.
ACADEMIA SERGIPANA DE MEDICINA.

A estratégia do Ministério da Saúde no combate ao mosquito não vem dando certo há 30 anos, desde a primeira epidemia de dengue em 1986. O governo insiste. Trata-se do esforço em matar o mosquito, seja com inseticida e larvicida, ou com a eliminação dos pequenos criadouros domésticos. Para isso, resolveu usar o exército, numa visível jogada de marketing; e realizar “mutirões” de convencimento, visando sensibilizar a sociedade, para que todos se engajem nessa missão. O slogan da estratégia é “um mosquito não é mais forte que um país inteiro”.
A novidade do “mata mosquito” são os recursos tecnológicos: esterilizar os mosquitos com radiações, lançar mosquitos transgênicos no meio ambiente ou mosquitos contaminados com a bactéria wolbachia, tudo dentro da lógica de eliminação por concorrência do mosquito selvagem. Tudo feito às pressas, sem uma consistente avaliação das consequências. Contudo, nem mesmo dentro dessa estratégia limitada, as ações da saúde pública têm sido permanentes e efetivas. O “mata mosquito” com a tímida participação dos agentes de saúde é um faz-de-conta.
No caso de Aracaju, nem a estratégia limitada está funcionando, o descaso é exagerado. O munícipio dispõe de 900 agentes de saúde, que se devidamente mobilizados, dariam uma grande contribuição; possui recursos para a eliminação dos grandes criadouros; e tem se limitado a rotina dos agentes de endemias. A ação do Estado tem sido mais intensa em vários municípios, inclusive na capital.
O que os pesquisadores da Saúde Pública, congregados na ABRASCO, têm insistido é na eliminação dos grandes criadouros, nas ações de saneamento ambiental, coleta do lixo, fornecimento permanente de água potável; somado a ações permanentes de saúde pública. O atual ecossistema urbano é favorável ao mosquito, onde ele se encontra no topo da cadeia alimentar. Mesmo com a provável descoberta de vacinas, como foi o caso da febre amarela e dengue, o risco de novas epidemias por outros vírus selvagens continua.

O mais perverso, é que nos próximos meses a tríplice epidemia vai arrefecer, devido ao inverno, como vem ocorrendo há décadas; e os méritos serão atribuídos às ações de marketing do Ministério da Saúde.   

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

SENHORA PRESIDENTA, O EXÉRCITO É OUTRO...



Senhora Presidenta, o Exército é outro...

Diante da repercussão internacional da tríplice epidemia (Zica, Dengue e chikungunya), e em especial da explosão dos casos de microcefalia; a Senhora resolveu organizar “um dia” (13) de esforço nacional para o combate ao mosquito. A estratégia escolhida foi a mobilização das Forças Armadas, acompanhado de uma ampla campanha de marketing. A intenção foi boa.
Mesmo considerando que a presença dos mosquitos decorre sobretudo da falta de saneamento ambiental, é consenso, que ação do poder público eliminando os criadouros domiciliares e peridomiciliares, em parceria com a população, reduz a infestação dos mosquitos, e pode interromper a transmissão das doenças.  
Em dezembro de 2015, o Sistema Único de Saúde (SUS) possuía 332.289 agentes comunitários de saúde credenciados pelo Ministério da Saúde, presentes em 5.504 municípios; profissionais que residem nas comunidades onde atuam, conhecem as pessoas, as vilas e veredas, já visitaram cada casa dezenas de vezes, são experientes; esses agentes estão vinculados a 48.391 equipes de Saúde da Família; compostas por médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, e que já cadastraram e visitaram a imensa maioria dos domicílios. Essa é a rede básica do SUS.
Senhora Presidenta, esse é Exército da Saúde pública. Qualquer estratégia para dar certo precisa centrar o combate ao mosquito nesses profissionais. A Senhora poderia organizar uma Força Sanitária Nacional, com esses agentes, centralizar o comando, com a missão prioritária de visitar todas as casas, permanentemente, e fazer uma varredura rigorosa dos criadouros do mosquito. Estamos diante de uma emergência. Claro que a ajuda das forças armadas, das igrejas, das escolas, dos sindicatos, das entidades empresariais, e de que mais quiser ajudar, será muito importante. Mas a base da ação não pode deixar de ser o SUS.

Só mais um pedido, a tarefa é reduzir o número de criadouros, suspenda imediatamente o envenenamento do meio ambiente e das pessoas, com o uso abusivo de inseticidas (fumacês) e larvicidas, já condenado por especialistas da ABRASCO. A experiência com o uso dos organoclorados (DDT, BHC, etc.) foi desastrosa para a saúde pública. 

Antonio Samarone - médico sanitarista.