sábado, 28 de setembro de 2013

Walter Noronha - Depoimentos





Manoela Rocha.
Terroir é uma palavra francesa sem tradução em nenhum outro idioma. Significa a relação mais íntima entre o solo e o micro-clima particular, que concebe o nascimento de um tipo de uva, que expressa livremente sua qualidade, tipicidade e identidade em um grande vinho, sem que ninguém consiga explicar o porquê.
Pensar em Walter Noronha como professor é pensar num terroir. Com grande maestria, ele consegue uma íntima relação entre ser docente e um amigo. Não há quem passe pela sua sala de aula, que não se encante com suas palavras, sejam elas sobre a Ortodontia ou sobre a vida. O professor Noronha é dono de uma sabedoria que inspira muitos de nós, é dono de um abraço verdadeiro, de um olhar compreensivo e de um sorriso motivador. Num curso tão exigente como a Odontologia, ser aluno de Noronha é acreditar que nós somos capazes de suportar quaisquer adversidades e no final da jornada, não há como não nos transbordarmos de gratidão. E é por isso que não é estranho ele se revezar entre ser paraninfo ou mestre-amigo de todas as turmas.
Só uma pessoa que tem completa segurança no que faz consegue dominar sua turma sem nem por um segundo levantar a voz, nos leva castanhas nas aulas práticas e elas não tiram nossa concentração, faz referências a outros assuntos para enriquecer nossas mentes e nem por isso perde o fio da meada. Ele entra às 7 da manhã na sala de aula, cheio de energia, chama todo mundo de “feião” e não haveria outra maneira mais carinhosa de ser chamado assim. No final do período, ele tem uma coleção enorme de fotos da turma dobrando fios, confeccionando aparelhos ortodônticos, fazendo provas e haja espaço no HD do computador!
Sem que eu consiga explicar o porquê, ele toca seus alunos de uma maneira singular, sem medo de estar à frente de uma sala de aula e expor sua alma. Uma alma repleta de amor pela Odontologia e pela vida. Nós temos a sorte de ter um verdadeiro mestre como exemplo e é por isso que nos resta comemorar. Se esse fosse um discurso escrito por ele, ele diria: “Você sabe qual é o significado da palavra ‘comemorar’? Ela tem origem latina, é uma palavra ligada ao verbo memorare, ou seja, lembrar, associada ao prefixo com, significa lembrar juntos, trazer à memória para festejar”. Em nome de todos os seus alunos, quero dizer que iremos comemorar para sempre a alegria de tê-lo como professor. Parabéns por toda dedicação e tenha certeza de que você plantou sementes promissoras por onde passou.
Mesmo para os maiores apreciadores do vinho, é difícil entender a complexidade do terroir, eu digo o mesmo desse professor, que harmoniza grandes qualidades, numa mistura que dá muito certo.
O ser humano Valter Noronha,
Texto de Vilma Noronha

Fui apresentada ao Noronha, pelo primo Jose Sebastião (meu colega no segundo grau). A proposta era estágio (acompanhá-lo no consultório). Mas....aí já viu né, não me largou mais kkkkkk. Eu havia terminado um namoro de 5 anos e naquele momento tudo que queria era ficar só no meu canto, mas, quando dei por mim,9 meses depois de conhecê-lo estava eu lá na porta da igreja em Boquim (já grávida de 3 meses, só nós sabíamos kkkkk). Então, 5 meses depois nasceu Viviane, hoje formada em Direito, casada e trabalhando no TRT/Ba. Quatro anos depois nasceu Vítor, hoje formado em Odonto e fazendo pós em Araraquara. E 7 anos depois, encerramos com Vinícius q hoje cursa Direito na UFS.
Entrei na vida dele contribuindo para hábitos saudáveis, pois assim q nos conhecemos, deixou de fumar (já fumava na época + de 2 carteiras de cigarro/dia). Um belo dia, no armazém de Sr Sizino na R Itabaiana, retirou do bolso o cigarro e o isqueiro e disse: tio, a partir de hoje não fumo +. E lá se vão + de 30 anos. Com a cerveja foi parecido, teve uma dengue, ficou 3 semanas sem beber, aí falou: Se fiquei 3 semanas sem beber, a partir de hoje não bebo +. Já se vão uns 20 anos. Há pouco tempo, passou a degustar o vinho com bastante moderação.
É um cabra determinado. Bom, meu marido é a pessoa + pechincheira q conheço. Ele diz q é característica dos ceboleiros, tem q negociar.
Gaiato demais. De tudo faz uma piada, adora contar as histórias de Itabaiana.
Barrista até onde não pode +. Tudo dele é em Itabaiana, lá tem de tudo e do melhor. Se procura uma coisa aqui e não encontra fala: quero ver não ter em Itabaiana. Se chega e o estabelecimento ainda tá fechado fala: quero ver em Itabaiana ainda tá fechado a essa hora. Ele tem poucos momentos de grossura. Tem uma presença de espírito muito grande. Certa feita em um almoço, qdo estava se servindo a colega gritou de lá - Noronha, pegando a comida com a mão? Mais q depressa ele respondeu - tentei pegar com o pé mas não deu. Foi uma gargalhada só,e a colega não gostou.kkkk.
É grosso qdo contrata serviço e o fornecedor não cumpre data e horário de entrega, aí sai de baixo. Certa vez, descontente com os serviços de um pedreiro, pegou todo material do pedreiro, jogou pelo muro e mandou-o embora. A cena foi hilária, pensei q ele fosse jogar o pedreiro junto.
Tbm é dono da verdade. Se me pede uma opinião, fica torcendo para q coincida com a dele, pq se a minha opinião for diferente, ele nunca acata, faz do jeito dele.
Teimoso q só...ele mesmo diz q puxou ao avô Boanerges em teimosia. Adora uma feira livre, o irmão (guilhermino) fala q ele é quem abre o mercado, por isso costuma chegar às 5 horas. Isso mesmo....é madrugador. Também às 19 horas já está se recolhendo. O sobrinho certa vez falou q não acreditou qdo Noronha disse q tinha paciente agendado às 6 hs da manhã. Aí fazendo uma visita ao consultório dele qdo folheava a agenda viu q era verdade.
O bicho é madrugador, se marcar qualquer coisa com ele, 1 hora antes ele chega. Gosta muito de buchada, e na companhia de Nivaldo e Átalo Crispim então, tá perfeito. Nesses momentos ele se permite dormir tarde, pois regado a vinho o papo vai longe, a contar e ouvir as histórias de Itabaiana. Tomam vinho, depois vem o pirão da buchada, combinação perfeita....kkkkkk
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Gosta muito de provérbios, chama a todos de Feião, é adepto do chapéu e a qualquer momento da bengala, pois diz q é um charme. Se pudesse, vivia de sobretudo, chapéu e bengala. Kkkk. Normalmente às 17 hs chega em casa, toma banho, café, senta na cadeira do papai cercado pelo computador, ipad, telefone, controles da tv e ai de quem passar perto, q ele não deixa escapar. É um tal de pedir água, mandar fechar janela, apagar luz.... É um verdadeiro pidão, não levanta pra nada. É professor dedicado e queridíssimo, muito bem entrosado com os alunos. Todo período é homenageado. É isso!!

Texto de Viviane Noronha.

Crescer com meu pai foi sempre escutar que o conhecimento é a única coisa q pode fazer você alcançar seus objetivos, que isso é o que te impede de ser mediano e faz você se destacar no meio de tantos outros! Ele sempre me mostrou que eu não sou melhor que ninguém, mas também não sou pior, as chances existem para aqueles que se interessam e trabalham duro por elas, e é assim que eu pauto minha vida. Uma lição muito valiosa!!
Eu costumo dizer que meu pai nasceu para ser MESTRE, para ensinar, espalhar e dividir conhecimento; eu costumo dizer para meus amigos que não importa qual fosse a graduação dele, ele seria professor. Mais até do que dentista, para mim, MESTRE é a melhor definição de Walter Noronha.
 Ele sempre nos exigiu disciplina, mas não de uma forma cruel ou desmedida, na verdade ele sempre ensinou para nós 3 a importância da disciplina e isso cresceu em nós de uma forma saudável, sempre nos fez ver que a gente poderia conseguir o que buscasse da vida, para isso, bastava determinação, disciplina e conhecimento, e para que a gente adquirisse conhecimento nunca houve empecilhos. Sempre tive a impressão de que ele moveria montanhas para que pudéssemos aprender qualquer coisa que tivéssemos interesse.
Bom, o fato é que ele foi severo sim, muitas vezes, e eu agradeço todos os dias por isso, por que foi graças às suas cobranças que eu descobri que os nosso limites somos nós quem criamos , que se uma oportunidade surge, independente do quão difícil possa parecer, eu posso sim agarrá-lá e brigar para consegui-lá!
 Ele não ensinou que eu posso tudo que eu quero, mas sim que eu faço o meu destino e que a sorte só bate na porta daqueles que se esforçam!!! Ele é o homem mais determinado que eu conheço, vai atrás do que quer, não importa a idade que tenha nem as dificuldades que a vida trace.
Quase aos 50 voltou para a sala de aula, e se tornou MESTRE, e isso não foi uma coisa fácil de fazer, deixar a família todo mês, por 1 semana durante 3 anos, voltar a estudar e ser testado, ter que escrever uma tese (que se tornou um livro -quanto orgulho)... E ele fez isso, e fez até parecer uma coisa simples!!!!
Ele sempre teve esse humor ácido, que imagino que você conhece bem, e, quando eu era adolescente você pode imaginar que não era uma coisa fácil de lidar. Houve conflito, me irritei muito, por muitas vezes, mas hoje, quase aos trinta, todos os dias vejo que embora eu seja fisicamente tal qual minha mãe, meu humor e temperamento não negam quem é meu pai, o mesmo humor ácido, impaciência, a mesma paixão pelas coisas que queremos e até a mesma forma de me perder e apreciar uma boa música..... quando afirmavam o quão parecidos éramos enquanto crescia, isso me irritava, mas como evitar a genética? E para que evitar? Me tornar tão parecida com esse homem hoje me faz muito orgulhosa!!!
Eu enxergo ele dentro de cada um de nós 3, de uma forma diferente em cada um, dado às nossas personalidades tão distintas, mas também de uma forma muito igual, porque o nosso reflexo dele espelha essa força e determinação para conseguir conquistar da vida o melhor que ela tiver para nos dar!!!

Texto de Vinicius Noronha.

Lembranças pessoais: Cachorro-quente em frente ao consultório após as aulas na escolinha de futebol, ver o sol nascer na casa de praia, passeios pela cidade às 5 da manhã, nos quais sempre me contava fatos de sua época de universidade, viagens a Itabaiana para visitar vovó Cristina, também às 5 da manhã. Estar de pé tão cedo sempre foi uma marca do meu pai. Personalidade: teimoso, carinhoso, dedicado e atencioso.

Vinte anos após a formatura, Walter monta consultório em Itabaiana, na esquina da Casa da família de Tereza Cristina, conquistando uma clientela expressiva, tendo deixar para ir cursar o mestrado, em ortodontia, em Campinas São Paulo. Atualmente, Possui consultório do Centro Luiz Cunha.

Walter Noronha - um mestre.







Antonio Samarone.

Walter Pinheiro Noronha, nascido em 03/03/1954, filho de Lafaiete Noronha (Guilhermino Noronha e Maria da Purificação Noronha , órfão de pai e mãe cedo, sendo criado pelo tio, Esperidião Noronha)  e Josefa Cristina Noronha (filha de Boanerges de Almeida Pinheiro e Maria da Conceição Almeida). Tive sete irmãos: Guilhermino; Fernando; Tófilo; Rubens; Ricardo (baleia) Neuma e Núbia. Casado com Vilma Alves Pereira Noronha, em 1983, e tiveram três filhos: Viviane, Formada em Direito, Vitor, Formado em Odontologia faz especialização em Ortodontia em Araraquara São Paulo e Vinicius, estudante de direito na UFS.
Sonâmbulo, quando criança, uma vez meu pai foi pegar ele na praça da igreja, próximo à casa do avô materno, Seu Boanerges, na Rua do Futuro. Walter também dormia bastante, se ia ao cinema e alguém não acordasse, ele ficaria dormindo.
Walter tinha medo de dentista, Eduardo Porto e seu Josias Bittencourt arrancavam os dentes dele à noite, quando a dor ficava insuportável.
Esquecido, quando passou em odontologia, Dona Cristina preparou a mala de roupas brancas, para variar, Walter deixou no ônibus.
Walter tinha suas traquinagens, fez o curso preparatório de noivo, pelo irmão, Teófilo, que morava em Belo Monte, em Pernanbuco. Todas as vezes que o padre fazia a chamada, Teófilo, Walter respondia presente, e a turma que conhecia os dois caia na gargalhada. 
Walter possuía uma veia cômica e os amigos achavam que ele se parecia com Chico Anísio. Em seu primeiro ano de universidade, o humorista veio fazer um espetáculo aqui em Aracaju, no Teatro da UNIT, como ele estava sem grana, sua tia Zefinha e Dona Ceça, sua avó, fez uma vaquinha e comprou o ingresso de Walter.
Quando criança, Walter organizou um circo, pegava os bodes de Dáia (sua tia Lindaura) e levava para fazer um espetáculo chamado de bodada, semelhante à tourada, com bem menos riscos, também fez espécie de instrumento com garrafas de vidro transparente de 1 litro, contendo líquido coloridos, na quantidade que emitia sons variados conforme as notas musicais, e cobrava ingressos dos meninos amigos. Tereza Cristina e Neuma ficavam vendendo os ingressos.  Funcionava no quintal da casa dele, onde hoje funciona a Floricultura Flor do Campo. Era um Show de música e tourada, certamente, uma influência espanhola.
Era a preguiça em pessoa, sua tia tinha um sítio no açude da Marcela e quando era hora de voltar de lá todos trazia algo, mas ele sempre não podia inventava sempre alguma coisa e tia Lindaura tinha pena trazia o q era para ele trazer.
Primeira professora: Dona Josefa Cordélia Alves Santos, esposa de Manoel de Zeca dos Peixes (uma escolinha na Rua de Macambira, perto do bar de Zezé de Jone, dona Maria Floresta, dona Letícia, esposa de um delegado Durval, Dona Ermelina, esposa do doutor Flodualdo (o médico dos pobres do Beco Novo), Minha mãe ficava de tocaia, esperando a chegada de Flodualdo para me levar para consultas, nunca voltava de mãos vazias, um remédio de verme, um fortificante, um frasquinho com pó de sulfamida, para as perebas e violeta genciana para as micoses; e dona Helena de Branquinha, onde concluiu o primário. Fez o exame de admissão no colégio Estadual de Itabaiana, para ingressar no ginasial, com atestado de dona Helena, quando ainda era terceiro ano primário. Naquele tempo podia. Achava-se que ele não precisava fazer o quarto ano primário, já era muito sabido.
No Murilo Braga, logo no primeiro ano ele foi reprovado, por minha culpa. Vamos ao fato: a professora Mercedes, de história, gostava de provas difíceis. Eu, amigo do padre Antonino, rato de sacristia, mexendo nos lixos do padre encontrei um estêncil usado, daqueles de mimeógrafos a álcool, com a prova de minha turma. Naquele tempo só a Paróquia possuía essa novidade tecnológica. Não hesitei, peguei o estêncil, ainda bem legível, e sair para o sucesso. Só que menino não aguenta ficar sem contar segredo, a travessura é mais gratificante que a nota, procurei Walter, tucá, Adilson, sair para as escondidas para mostrar o troféu.  Como não existe crime perfeito, Vilma de seu Abdias ficou de fora, e segundo testemunhas, nos entregou de bandeja a bela professora. Resumo, Walter foi condenado a reprovação. Depois ele liderou a organização de uma gincana cultural-recreativa nos 25 anos do CEMB, era da turma do 3º, ano científico 1974.
Walter participa ativamente da fundação do Rotaract Club de Itabaiana, (sócio fundador do Rotaracty Club de Itabaiana) em 23 de abril de 1977, onde fora eleito Presidente da primeira gestão por tempo provisório.  Seu vice foi o famoso João Andrade. São as primeiras manifestações culturais, fora do guarda-chuva clerical, após o Concílio Vaticano II.
Walter foi um destaque do Voleibol em Itabaiana, com o professor José Antonio Macedo, e com a supervisão de Alberto Menezes, chegando a ser convocado para a seleção sergipana. Essa equipe de voleibol era formada Ronaldo de Dalva, João de Timbeu e Orlando de Joza. Antes, Djalma Lobo, Canhoto, e uma turma do Banco do Brasil, jogavam voleibol na praça do Dr. Gileno, no lendário campo de Poconé. Para os mais novos, ficava ali pelos fundos da Associação Atlética.   
No período do vestibular, Walter pegou uma hepatite, ficou em casa num longo repouso, sob os cuidados de Guilhermino, seguindo uma dieta esquisita, só comia goiabada e chupava lima, esquisita ou não, o certo é que ficou bom.
Na aula inaugural de Anatomia no CCBS, auditório lotado, o professor começa a chamar os calouros para o famoso juramento ao cadáver. A cada um que se aproximava, era perguntado o nome, etc. uma apresentação. Na vez do Dr. Tinho, ele ficou nervoso, gaguejou e não saiu nada. Walter lá da última fila, atrás de todo mundo, gritou: professor, aí é Tinho, filho de Paulo, neto de Bernabé, o famoso rezador do Sítio Porto, em Itabaiana, houve uma risada geral e o Dr, Tinho se deu por apresentado.
Formou-se em odontologia em 1980, incorporou-se ao Exército, como oficial dentista, onde permaneceu por cinco anos. Depois do quartel, foi trabalhar na Saúde do Município, administração de José Carlos Teixeira, onde o Secretário da Saúde era o ilustre itabaianense, Dr. Marcondes de Jesus, filho de Seu Eronildes, e secretário da administração era outro itabaianense, o Dr. Bosco de Jubal. 
Em 1992, ingressou por concurso na faculdade de Odontologia da UFS, como professor de prótese fixa. Especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares, pela Camilo Castelo Branco, em Recife e Especialista e Mestre em Ortodontia, pela São Leopoldo Mandic, Campinas São Paulo. Atualmente é Professor de ortodontia da UFS, tendo substituído o Dr. Manoel Cardoso, o mesmo Manuca da Federação de Futebol. Walter é  também Coordenador de Pós-graduação em Ortodontia.
Como professor, vejam o depoimento da Aluna Manoela Rocha: “O professor Noronha é dono de uma sabedoria que inspira muitos de nós, é dono de um abraço verdadeiro, de um olhar compreensivo e de um sorriso motivador.” “Num curso tão exigente como a Odontologia, ser aluno de Noronha é acreditar que nós somos capazes de suportar quaisquer adversidades e no final da jornada, não há como não nos transbordarmos de gratidão.”  “E é por isso que não é estranho ele se revezar entre ser paraninfo ou mestre-amigo de todas as turmas.”
Autor de um importante Livro de Ortodontia. Bioprogressiva - Mau caderno.  Editora Napoleão de SP. Editado em Português e Espanhol e publicado em toda América Latina.
Vou encerrar com uma citação, de Viviane, sua filha: “Mas além da perseverança ele tem tantas outras qualidades e defeitos, como qualquer um, tem paixões e desgostos, como qualquer um, mas diferente que "qualquer um",vai se tornar um IMORTAL, e como não me orgulhar mais uma vez desse pai, desse homem, desse MESTRE?!”

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Médicos Cubanos

Antonio Samarone


A arte de curar no Brasil é bem anterior à chegada dos médicos coimbrenses. Até a primeira metade do século XX, o atendimento a população era feito por curandeiros, práticos, rezadores, barbeiros, sangradores, quase todos negros, índios e mestiços. Médicos diplomados, brancos, só uma meia dúzia de Cristão Novos dispersos nesse vastíssimo território. Os primeiros Jesuítas trataram de aprender noções de medicina, para remediar o que fosse possível. O povo sempre morreu à mingua.

O que fazer com os doentes, que sempre foram muitos? Uma maioria buscava o socorro nos guias médicos do doutor Chernoviz, Pedro Luiz Napoleão, doutor em medicina, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Oficial da Ordem da Rosa do Brasil. Eram guias práticos, que ensinava como proceder quando a necessidade aparecesse. As enfermidades, os remédios, os socorros estavam tudo ali descrito em seus detalhes.

Criar duas Faculdades de Medicina, uma no Rio de Janeiro e outra em Salvador, foi uma das providências tomada pela Família Real em sua chegada ao Brasil (1808). Pelos menos formar médicos para o atendimento a nobres e fidalgos recém-chegados, e a uma pequena elite tupiniquim. O povo continuou sem ter onde cair morto. O socorro, quando havia, ficava restrito as Santas Casas, a filantropia e a misericórdia de religiosos.

Só a partir de 1930, com a criação da Previdência Social (os IAPs), os trabalhadores urbanos, com carteira assinada, passaram a ter uma assistência médica regular, sem necessidade de recorrer à caridade pública. A grande maioria do povo continuou de fora. Com a ditadura (1964), a Previdência ampliou a cobertura (INAMPS e FUNRURAL), mesmo assim, a cobertura dos serviços atingia apenas 40% da população. Foi a era da medicina liberal.

Com a Constituição Federal de 1988, a utopia gravou no papel que a saúde passaria a ser um direito de todos e um dever do Estado, e mais, sob o controle social. Fizemos conferências, seminários, debates, elaboramos programas inovadores, aprovamos leis avançadas, e criamos o Sistema Único de Saúde (SUS). Fizemos uma reforma sanitária, e o que ocorreu? No lugar da consolidação de uma medicina Pública, universal e equânime, ocorreu à invasão da medicina privada, financiada pelos planos de saúde, um sucateamento do SUS, e ampliação da desigualdade de acesso. Uma medicina comandada pelo Capital financeiro, através dos planos e seguros de saúde. O povo continuou penando.

A situação na verdade se agravou. Desmontou-se o sistema filantrópico, que bem ou mal prestava algum socorro, e o acesso a nova medicina científica, organizada pela lógica do mercado, montada para atender ocorrências agudas e pelo esquartejamento do cuidado médico, transformado em procedimentos, ficou quase impossível para o povo. Uma simples redução de fratura, uma pessoa com um braço quebrado, passou a esperar 90 dias para ser atendido. A qualidade do atendimento a um paciente com câncer, por exemplo, atendido nos hospitais privados dos grandes centros, e os pacientes com câncer do SUS, passaram a ter uma desigualdade humilhante.

As ruas falaram, as cobranças se acentuaram, a desaprovação dos serviços de saúde chegou a limites, era urgente, o que fazer, eleições à vista? O Governo do PT, que mais combateu o neoliberalismo (lembram-se desse carma?), resolveu optar por uma política compensatória, e oferecer ao povo uma medicina simplificada, com 30 anos de atraso, a margem do sistema médico dominante. Exatamente isso é o que significa a opção pelos médicos cubanos.

Se for bom, ruim, se é isso mesmo, se o pior é não ter assistência nenhuma, tornou-se uma discussão interminável e ideologizada. O erro do movimento médico foi ser contra a essa medicina, sem apontar uma saída viável. Defender como saída alocação de mais recursos, para alimentar uma medicina mercantil, focada em produzir e vender procedimentos, numa imitação do modelo médico americano, é claro que não resolverá a crise da medicina pública.

Na verdade, o Governo optou pela volta da "medicina de pés descalços" (lato senso), só que exercida por profissionais diplomados e estatais. Possivelmente teremos uma assistência mais humanizada, um maior acolhimento, mas o acesso a condutas e procedimentos mais modernos, tecnologias mais avançadas, continuará sendo sonegada ao povo. Os nossos curandeiros tradicionais também eram holísticos, e com a vantagem, eram filhos do próprio povo, conhecia seus sofrimentos por experiência própria. O Governo poderia mandar distribuir com as populações desassistidas, não mais o Chernoviz,  mas um manual da década de 1960, “onde não há médicos”, de David Werner. A verdade é que o povo continuará morrendo por falta de uma assistência adequada.

Os meus colegas cubanos acreditam que vieram em missão de solidariedade, não discordo, mas é preciso esclarecer, solidariedade a quem? Talvez ao Governo brasileiro, que se perdeu na guerra de interesses, privilegiando a medicina privada, inclusive dentro do próprio SUS, que consome 60% da receita comprando serviços a terceiros.  Mas solidariedade ao povo desassistido, creio que não. Que a medicina se humanize e finalmente chegue a todos no Brasil, continua sendo uma aspiração, entretanto, sem abrir mão dos recursos modernos da medicina, que hoje são ofertados somente aos ricos.

domingo, 8 de setembro de 2013

Saúde Pública em Sergipe (Parreiras Horta e Graccho Cardoso)

Antonio Samarone
Academia Sergipana de Medicina



Paulo de Figueiredo Parreiras Horta nasceu no dia 24 de Janeiro de 1884, na cidade do Rio de Janeiro. Filho do engenheiro Dr. José Freire Parreiras Horta e de Paula Margarida de Figueiredo Parreiras Horta e veio a falecer na mesma cidade, em 29 de julho de 1961. 

Formado em farmácia em 1903, pela Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro, posteriormente graduou-se em medicina, com a tese "Contribuição para o Estudo das Septicemias Hemorrágicas", na cadeira de Bacteriologia, defendida em 21 de janeiro de 1905, tendo sido aprovado com distinção. 

O Dr. Parreiras Horta viveu sob a influência das idéias prevalecentes da época, oriundas do Velho Continente, principalmente da França, em que a medicina deveria ser conduzida por conceitos fisiopatológicos. O termo fisiopatologia, o estudo das doenças fundamentada na fisiologia, deve tudo a Claude Bernard, que criou a medicina experimental. O mundo, entre o final do século XIX e a 2ª Guerra Mundial, viveu a crença que a ciência e a medicina, através das pesquisas e da benemerência, legariam à humanidade um futuro venturoso, rico e saudável. As palavras e o espírito de pesquisador de Claude Bernard na "Introduction à le étude de la médicine experimentale", em 1865, constituía-se inspiração para os jovens médicos, quando ensinava, categoricamente: "A inspiração dos médicos que não se esteiam na ciência experimental é só fantasia, e é em nome da ciência e da humanidade que devemos reprová-la e baní-la".

O lugar ideal para suas aspirações seria o pequeno centro da ciência. O Instituto Manguinhos, criado e dirigido por Oswaldo Cruz, recebeu os interessados em pesquisa. Muitos deles ainda estudantes, como o caso Parreiras Horta, desejavam elaborar suas teses de final de curso, sobre assuntos originais no campo da hematologia, sorologia, bacteriologia, parasitologia, anatomia patológica, entomologia, que até 1906, eram os trabalhos mais desenvolvidos na Instituição. Outros médicos vinham em busca de conhecimentos especializados sobre a medicina experimental, ou em busca do conhecimento necessário para prestação de concursos no campo da Saúde Pública, especialidade médica que começava a se tornar importante no meio médico. 

Parreiras Horta, desejoso de seguir a carreira de pesquisador, em 1904, último ano do seu curso de Medicina, procurou o Instituto Manguinhos. Entre 1906 e 1907, fez o Curso de Especialização em Microbiologia no Instituto Pasteur, em Paris. Através de portaria datada de 30 de agosto de 1909, foi nomeado para exercer o cargo de Assistente do Instituto de Manguinhos, em substituição ao Dr. Henrique de Figueiredo Vasconcelos. Admitido no Instituto como pesquisador, a convite do Prof. Oswaldo Cruz, passou a desenvolver seus trabalhos no campo da bacteriologia e da dermatologia.

A partir de 01/10/1911, foi contratado como Assistente do Instituto, ficando por pouco tempo, pois em 08/03/1912, a seu pedido, foi exonerado do cargo por ter sido nomeado Chefe da Secção Técnica da Diretoria Geral do Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1917 foi nomeado professor catedrático de Microbiologia e Parasitologia dos Animais Domésticos, da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, do Rio de Janeiro.

Em 1919 exerceu o cargo de Diretor da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária e integrou o corpo clínico da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, trabalhando no Serviço de Dermatologia e Sifiligrafia, onde sucedeu ao Dr. Werneck Machado e foi substituído pelo Dr. Ramos e Silva.

Tornou-se grande amigo do Dr. Maurício Graccho Cardoso e este, quando estava no Rio de Janeiro, freqüentemente se encontrava com o Dr. Parreiras Horta para trocar idéias. Foi esta amizade, além do seu espírito empreendedor, que o fez vir a Sergipe em 1923 e aceitar o desafio de construir e fundar o Instituto Parreiras Horta, o primeiro no gênero a ser criado no norte e nordeste do país. Foi uma mudança que mobilizou toda a sua família, pois trouxe com ele sua esposa Ruth e seis filhos pequenos, deixando em Petrópolis apenas Paula e Carlos, que estavam estudando. 

Em Aracaju, dedicou-se com empenho na fundação do Instituto Parreiras Horta, instituição que foi criada através da Lei nº 836 de 14 de novembro de 1922, destinada a completar a nova estrutura de Saúde Pública estadual. Foi responsável por toda a concepção arquitetônica e organização funcional da nova entidade, acompanhando diariamente a construção do prédio, tijolo por tijolo, localizado no mesmo lugar onde ainda hoje presta serviços à comunidade sergipana.

O Instituto tinha como finalidades principais a produção de insumos básicos, combater a raiva, produzir a vacina anti-variólica, possuía laboratório de análise clínica, bacteriológica e química, além de funcionar também como um centro de pesquisas médicas. O início da construção, em 23 de julho de 1923, repercutiu favoravelmente no meio médico e na sociedade sergipana, porque através da sua capacidade científica, poderia contribuir para esclarecer as chamadas "febres de Aracaju", como também contribuiria decisivamente para elevar o padrão do atendimento da saúde da população, através dos exames de laboratório, contribuindo concretamente para o exercício da medicina científica em Sergipe.

O Instituto foi inaugurado em 05 de maio de 1924, em dia festivo, com a presença do Governador Graccho Cardoso, do Dr. Parreiras Horta e de diversas autoridades e funcionários públicos. Em dezembro de 1925, o Dr. Parreiras Horta, terminada mais uma das suas bem sucedidas missões, tendo contribuído decisivamente para o desenvolvimento da prática médica e a implantação da medicina científica em Sergipe, retorna ao Rio de Janeiro, deixando em seu lugar como diretor da nova instituição, o médico Dr. João Firpo Filho.